quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Esta prisão é como uma praia:
Está tudo adormecido nela.
As ondas quebram a nossos pés
E o estio, o Inverno, a primavera, o Outono,
São caminhos exteriores que outros percorrem:
Coisas sem vigência,
Símbolos mudáveis do tempo.
O tempo aqui não possui sentido.
São coisas externas, coisas sem vigência,
Antigos mitos, caminhos que outros percorrem.
São tempo.
E aqui não possui sentido.
Para o resto tudo é terrivelmente simples.
A assim as horas,
E assim os anos,
Tudo aqui é simples,
Terrivelmente simples.
É o efémero
Isso que passa e que muda,
O que nos faz estar presos.
Sede de tempo, que o tempo
Aqui não possui sentido.
Um homem passa.
Diz:“Quatro, cinco anos”,
Como se lançasse os anos ao esquecimento.
Na visita, ouve-se uma mãe:“Meu filho, não demores,…”
São só mais quatro, cinco, seis anos…
Responde de imediato o filho, sereno,
Como se os lançasse à morte.
Está aqui o tempo sem símbolo
Como água errante que não modela o rio.
E eu, entre coisas de tempo,
Ando, venho e vou perdido.
Mas estou aqui, e aqui
Não tem o tempo sentido.
Estará adormecido?
Porque sem uma evidência de tempo,
Eu não estou vivo.
Desta prisão poderia lavrar meus novos caminhos
Para não me sentir só
Pelos minutos dos minutos,
Pelas horas das horas,
Pelos dias dos dias,
Pelos anos dos anos,
Pelos séculos dos séculos.
Aqui princípio um novo tempo
Urna de luar, prisão de aroma
E já tudo celestemente material
Até eu mesmo, sou peça real deste puzzle
Da terra e ar e água e fogo e carne e sangue…
Presente, eternamente presente.
Bebes gota a gota,
Gole a gole, toda a dor,
Toda a vida, todo o sonhado…
Já não importa morrer,
A morte rompe com sua proa a tristeza.
Se súbito, ouve-se o silêncio
Que tinha sido, um só instante.,
Que tinha sido vida, e era
Nuvem e cinza na memória.
Pendão fatal da beleza,
Só resta chorar a sós.
Mas já sem lágrimas,
Já sem palavras,
Que revelam,
Que ocultam,
E cala o que apregoam.
Como se pode esvaziar assim um coração.
Como se pode chorar assim, por dentro.
Frustrações ou mortes,
Nada me arranca lágrimas, desde aqueles tempos
Que voavam sobre mim.
Então e agora?
O que ficou na minha vida entre suas asas
O que na música mixada na noite
O que se sumiu pelas escadas do tempo
O que se dissolveu pela chuva que não vi cair.

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